quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Notebook na escola da certo

Um teclado na mão vale mais do que mil canetas no estojo? Simone Janovich, 17, acha que sim. Ela leva seu laptop para a escola todos os dias.

"Prefiro escrever no computador. Tenho facilidade para digitar, e fica mais organizado", diz ela, que acha mais fácil estudar 'fazendo tudo no laptop".

"Tiro dúvidas com meus amigos pelo MSN, trocamos e-mails sobre anotações de aulas, falo on-line com os professores. O computador também poupa um pouco os dedos. Chega de calos!", continua ela, que só escreve à mão quando necessário --em geral, durante provas escolares e aulas de redação.

Henrique Manreza/Folha Imagem

Aluna Marjorie Sterenberg, 16, assiste aula no Colégio Renascença acompanhada do seu notebook, no bairro de Higienopólis, Sao Paulo

Aluna Marjorie Sterenberg, 16, assiste aula no Colégio Renascença acompanhada do seu notebook, no bairro de Higienopólis, Sao Paulo

Como Simone, muitos jovens sentem-se mais à vontade digitando do que redigindo à mão.
Seria o prenúncio do fim da letra manual?

A atual geração não escreve em agenda e diário, mas em blog; comunica-se por meios eletrônicos, com mensagens de texto por celular, MSN, Orkut, Twitter ou e-mail.

Caligrafia para quê?

Educadores relutam em apostar na extinção da caligrafia, mas admitem o desinteresse e a diminuição da prática.

"A escrita é um recurso que jamais vai acabar, é como os livros, que não vão sumir, embora muita gente hoje leia mais na internet. Só se aprende a escrever escrevendo e só se aprende a ler lendo. O mundo totalmente informatizado não é para essa nem para as próximas gerações", diz a psicopedagoga Lígia Fleury, do Colégio Renascença.

Muitos jovens questionam a importância de escrever à mão, diz Lígia. "Quando um aluno fala que não precisa disso, eu respondo que nem sempre ele terá um computador à disposição, que ninguém fica conectado 24 horas por dia. Tem que saber escrever manualmente."

No Renascença, os alunos podem levar laptops para a sala de aula, com uma restrição: nada de entrar na web. Nesse cenário, o maior vilão é o corretor ortográfico, criticado por educadores mais conservadores.

"Eu oriento os meus alunos, digo que essa ferramenta serve para chamar a atenção para um erro e ensinar o correto. Não pode ser usada como um ato mecânico de corrigir. Existe espaço para o computador e para o caderno na escola", diz Lígia.

Outra adepta da moda de trocar pesados cadernos por um computador portátil é Marjorie Sterenberg, 16. "O meu laptop é como um caderno com todos os meus cadernos e com muito mais recursos. É mais prático anotar as aulas assim. Se você escreve errado, deleta, não precisa apagar ou riscar tudo", diz.

Marjorie admite que tem dificuldade para escrever à mão. "Eu estudava numa escola britânica onde todos os alunos tinham laptop desde a oitava série. Minha letra não é muito boa, não treinei caligrafia", conta ela, que sonha com provas digitalizadas e se preocupa com a redação do vestibular.

Rafael Elkabets, 16, só troca o computador pelo papel quando é obrigado. 'No futuro, vou precisar mais do computador do que de caligrafia. Mas eu sempre me esforço para fazer letras bonitinhas nas redações', diz.

Para a psicopedagoga Raquel Caruso, diretora da Edac (Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico), o computador ajuda a camuflar falhas.

"Algumas crianças têm dificuldade na escrita manual e, quando conhecem o computador, esses problemas desaparecem. É preciso ter uma escrita que seja compreensível para os outros. Depois que isso estiver sedimentado, pode-se usar o computador sempre."

Essa geração não escreve menos, ao contrário --só não escreve mais à mão, compara Débora Vaz, diretora da Escola Castenheiras.

"O [escritor] Mário Prata falou uma vez que essa geração escreve muito mais do que as anteriores. No meu tempo, era impensável um jovem ficar quatro horas seguidas lendo e escrevendo."

 

Fonte: Folha.com

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